Resenha: Um Momento, Uma Manhã – Sarah Rayner

Um momento uma manhã

Nada descreve esse livro como a palavra tranquilidade.

  • Livro: Um Momento, Uma Manhã
  • Autor: Sarah Rayner
  • 310 páginas
  • Sinopse:

7:44. É hora do rush no trem de Brighton a Londres. Um evento irá mudar para sempre a vida de três passageiras.

Sem ter mais o que fazer e por força do hábito, Lou analisa discretamente os passageiros. Perto dela, está um casal. A mulher parece distraída e o marido, ao seu lado, acaricia carinhosamente a mão dela. De repente essa cena quase íntima é interrompida abruptamente: o homem tem um infarto. Karen, a mulher, não consegue reagir. O que há de errado com Simon? O trem para. Os paramédicos chegam.

Alheia ao alvoroço que está acontecendo em outro vagão, Anna deixa sua revista de lado. Por que o trem parou? Ela tem uma importante reunião e não pode se atrasar.

Depois do tumulto na chegada à estação, Anna e Lou acabam compartilhando um táxi para Londres. São duas desconhecidas unidas pelo episódio daquela manhã: Lou testemunhou os últimos momentos de vida de um homem, cuja mulher, Karen, é coincidentemente a melhor amiga de Anna.

E assim os destinos dessas três mulheres se entrelaçam, tal como os passageiros que se cruzam nas estações. Para Karen, Anna e Lou, a partir daquele momento, naquela manhã, a vida não será mais a mesma…

Uma história emocionante e envolvente sobre família, amor, perda e, acima de tudo, sobre a força das amizades forjadas pelas circunstâncias da vida. Assim como o trem, a vida precisa seguir em frente. E Karen, Anna e Lou sabem disso.

!!!Resenha com spoilers!!!

De uns tempos para cá, li livros com um ritmo animado, coisas acontecendo simultaneamente, personagens que se enroscam, cenas que tiram fôlego.

Talvez seja por isso que esse livro tenha se chocado contra a minha opinião. Não me entendam mal: ele não é ruim. A narrativa é verdadeira e é um plot “crível” a despeito de qualquer comentário que eu venha a fazer a seguir.

Encaixe-se o entretanto nessa linha.

Ninguém (pelo menos eu) abre um livro para algo que é possível ver no dia a dia. Rayner conta a história, ou melhor, o desdobramento de fatos que se desencadeiam de uma morte inesperada. Eu entendo os motivos dela: é interessante ver como algo tão próximo/distante como a morte nos afeta. Só que isso é interessante quando fica no background ou quando as mudanças desenvolvidas não são “esperadas”.

Sou sincera, não li buscando o final feliz. Li querendo ver alguém cometendo atrocidades diante do luto, li imaginando um conhecimento pessoal absurdo de um dos personagens, li querendo que meu queixo caísse.

Só pra ter uma ideia, é difícil dar spoiler desse livro: existem três personagens. Karen, mãe de família que perde o marido muito cedo e muito subitamente; ela é basicamente o cerne da narrativa, lidando com os filhos e com as consequências da morte de Simon. Ana é sua melhor amiga, casada com Steve, um pintor com baixa autoestima e que é alcoólico. Lou, por final, é uma terapeuta gay que não contou a sua mãe sobre sua opção sexual.

O jeito como Rayner quis entrelaçar as três foi interessante, não devo negar. Entretanto, o interesse para aí. Karen convalesce lentamente da morte de seu marido. Ana chuta Steve para fora de casa. Lou sai do armário.

Eu sei, deve perguntar, “e daí?“, mas esse é o meu problema: é só isso.

Não se pode esperar muito de um livro com essa premissa. Eu talvez tenha me interessado mais pela perspectiva de um fluxo de pensamento instigante e não um fluxo de ação inebriante. Eu não esperava o físico, esperava o mental. O físico se desenrola na sucessão de acontecimentos; o mental, pela sucessão de pensamentos e revelações internas.

Em Um momento, uma manhã não há nenhum dos dois.

É a vida, uma paisagem simples, como a primeira imagem que consegui achar para ilustrar esse post. Não deixa de ser bonito, como as águas acimas. Não deixa de ser profundo, até um pouco triste, mas é.só.isso.

Não vou dar mais de uma estrela para esse livro. Quero me surpreender, tirar meu próprio fôlego. Não quero uma preview de vida. Obrigada, eu espero pelo programa completo.

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Até a próxima.

C.R.